quarta-feira, 25 de novembro de 2009

continuando...

a música do último post é do disco nove luas, que eu adoro. desse mesmo disco vem a próxima declaração... essa sim, de-fazer-chorar-de-tão-linda!

outra beleza

os paralamas do sucesso

Outra beleza
Outra beleza, você tem
Que põe cama e mesa
E mais beleza no mundo também.

Não tá no frio da pedra, do bronze ou da tela
Tá no olhar, tá no movimento dela
Em cada suspiro de amor
Cada gesto de mão, cada novo sabor
Cada ocasião em que a alma se revela.

O sol já se põe na paisagem da minha janela
Se o telefone tocar já sei que é ela
De caras e bocas e marcas
De ostentação, de comparação
Não precisa não
Você é muito mais bela!


ouvindo: quarteto novo. canta maria

seja você

mais uma pra série as mais belas declarações de amor.

(ok, ela pode não ser das mais belas. mas é das mais verdadeiras...)

seja você

os paralamas do sucesso

Vai sempre ter alguém
Com mais dinheiro, mais respeito
Mais ou menos tudo o que se pode ter
Vai sempre sobrar, faltar
Alguma coisa, somos imperfeitos
E o que falta cega p'ro que já se tem

Eu não te completo
Você não me basta
Mas é lindo o gesto de se oferecer
O que eu quero nem sempre eu preciso
Mas dê um sorriso quando me entender

Seja você
Seja só você
Seja você
Seja só você

ouvindo: quarteto novo. algodão

domingo, 22 de novembro de 2009

pérola do dia (de ontem)

trata-se do museu clube da esquina.

a minha relação pessoal com esse movimento é curiosa: eu não conseguia ouvir nada deles até menos de 2 anos atrás. não dá pra explicar o porquê. eu simplesmente não gostava. aí um dia, do nada, me bateu uma vontade de escutar paula e bebeto, música do milton. por causa dela, baixei o disco minas, escutei algumas vezes e... pimba! me toquei de que era a coisa mais revolucionária que eu ouvia em muito tempo. aí baixei o clube da esquina (disco-marco-inicial do movimento), outros discos do milton... e fui me envolvendo com o som... até o ponto de desconfiar que esse seja o meu movimento musical preferido! importante, né?

mas eu ainda tenho muuuito o que conhecer. e daí que eu descobri o museu virtual. pirei! meu sonho é ler tudinho que tá escrito lá. de cara eu já recomendo a linha do tempo, um paralelo feito (desde o fim do século 18!!!) entre o contexto sócio-econômico, o panorama musical brasileiro e mundial e a trajetória do clube da esquina. um deleite pra quem gosta de história/música/história da música!

ah, sem esquecer: o museu faz parte de um projeto maior, que é o museu da pessoa: bacaníssimo!

ouvindo: beto guedes. salve rainha

domingo, 15 de novembro de 2009

ah, o amor!...

o último post me inspirou a começar uma nova série neste blog: as mais belas declarações de amor.

ok, o nome ficou brega. mas, acredite em mim, mulheres do mundo inteiro seriam capazes do inimaginável, só pra ouvir algo assim:

meu esquema

fred zero quatro

Ela é meu treino de futebol
Ela é meu domingão de sol
Ela é meu esquema

Ela é meu concerto de rock'n'roll
Nação, minha torcida gritando gol
Minha Ipanema

Ela é meu curso de anatomia
Ela é meu retiro espiritual
Ela é minha história

Ela é meu desfile internacional
Ela é meu bloco de carnaval
Minha evolução...

Galega
Tento descrever o que é estar com você

Princesa
Todos vão saber que eu estou muito bem com você

Ela é minha ilha da Fantasia
A mais avançada das terapias
Meu Playcenter

Ela é minha pista alucinada
A mais concorrida das baladas
Meu inferninho

Ela é meu esporte radical
Poderosa, viciante, mas não faz mal
Meu docinho

Ela é o que meu médico receitou
Rivaldo Maravilha mandando um gol
Minha chapação...

Galega
Nem dá pra dizer o que é estar com você

Princesa
Todo mundo vê que eu sou mais...

ouvindo: mundo livre s/a. meu esquema

sábado, 14 de novembro de 2009

o mangue beat

recortes do principal movimento musical brasileiro da década de 90:

começando com caranguejos com cérebro, manifesto escrito por fred zero quatro, jornalista e líder da banda mundo livre s/a, em julho de 1992. dessa banda é a música em seguida - a minha preferida deles. por fim, uma frase do chico science, que dispensa apresentações.
Mangue, o conceito

Estuário. Parte terminal de rio ou lagoa. Porção de rio com água salobra. Em suas margens se encontram os manguezais, comunidades de plantas tropicais ou subtropicais inundadas pelos movimentos das marés. Pela troca de matéria orgânica entre a água doce e a água salgada, os mangues estão entre os ecossistemas mais produtivos do mundo.

Estima-se que duas mil espécies de microorganismos e animais vertebrados e invertebrados estejam associados à vegetação do mangue. Os estuários fornecem áreas de desova e criação para dois terços da produção anual de pescados do mundo inteiro. Pelo menos oitenta espécies comercialmente importantes dependem do alagadiço costeiro.

Não é por acaso que os mangues são considerados um elo básico da cadeia alimentar marinha. Apesar das muriçocas, mosquitos e mutucas, inimigos das donas-de-casa, para os cientistas são tidos como símbolos de fertilidade, diversidade e riqueza.

Manguetown, a cidade

A planície costeira onde a cidade do Recife foi fundada é cortada por seis rios. Após a expulsão dos holandeses, no século XVII, a (ex)cidade *maurícia* passou desordenadamente às custas do aterramento indiscriminado e da destruição de seus manguezais.

Em contrapartida, o desvairio irresistível de uma cínica noção de *progresso*, que elevou a cidade ao posto de *metrópole* do Nordeste, não tardou a revelar sua fragilidade.

Bastaram pequenas mudanças nos ventos da história, para que os primeiros sinais de esclerose econômica se manifestassem, no início dos anos setenta. Nos últimos trinta anos, a síndrome da estagnação, aliada a permanência do mito da *metrópole* só tem levado ao agravamento acelerado do quadro de miséria e caos urbano.

Mangue, a cena

Emergência! Um choque rápido ou o Recife morre de infarto! Não é preciso ser médico para saber que a maneira mais simples de parar o coração de um sujeito é obstruindo as suas veias. O modo mais rápido, também, de infartar e esvaziar a alma de uma cidade como o Recife é matar os seus rios e aterrar os seus estuários. O que fazer para não afundar na depressão crônica que paralisa os cidadãos? Como devolver o ânimo, deslobotomizar e recarregar as baterias da cidade? Simples! Basta injetar um pouco de energia na lama e estimular o que ainda resta de fertilidade nas veias do Recife.

Em meados de 91, começou a ser gerado e articulado em vários pontos da cidade um núcleo de pesquisa e produção de idéias pop. O objetivo era engendrar um *circuito energético*, capaz de conectar as boas vibrações dos mangues com a rede mundial de circulação de conceitos pop. Imagem símbolo: uma antena parabólica enfiada na lama.

Hoje, Os mangueboys e manguegirls são indivíduos interessados em hip-hop, colapso da modernidade, Caos, ataques de predadores marítimos (principalmente tubarões), moda, Jackson do Pandeiro, Josué de Castro, rádio, sexo não-virtual, sabotagem, música de rua, conflitos étnicos, midiotia, Malcom Maclaren, Os Simpsons e todos os avanços da química aplicados no terreno da alteração e expansão da consciência.

Bastaram poucos anos para os produtos da fábrica mangue invadirem o Recife e começarem a se espalhar pelos quatro cantos do mundo. A descarga inicial de energia gerou uma cena musical com mais de cem bandas. No rastro dela, surgiram programas de rádio, desfiles de moda, vídeo clipes, filmes e muito mais. Pouco a pouco, as artérias vão sendo desbloqueadas e o sangue volta a circular pelas veias da Manguetown.




Um passo à frente e você não está mais no mesmo lugar.

variações do mesmo tema




créditos

ouvindo: gilberto gil e jorge ben. quem mandou, pé na estrada

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

pílula de sabedoria, com wilson abrantes

eu não me atraso. por isso não sou ansioso.

ouvindo: casuarina. é isso aí (isso é problema dela)

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

mamãe-eu-quero

e vem do mesmo tas o meu mais novo sonho de consumo:


ouvindo: raul seixas. gospel

propaganda


a pedido do marcelo tas ;)

ouvindo: ludov. mecanismo 3

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

exército brasileiro

tenho um pouco de preguiça pra vídeos engraçadinhos do youtube. mas adorei esse!!!

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

pílula de sabedoria, com ana garcez

Estou pregando a reserva de um tempo para que todos nós façamos o que gostamos, tempo esse que não pode ser substituído por nada: compromisso inadiável.

mais? aqui.

ouvindo: dorival caymmi. 365 igrejas

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

falha GRAVÍSSIMA

eu não acredito que ainda não tinha colocado essa música aqui. é que ela é séria candidata a melhor música do ano!!!

domingo, 11 de outubro de 2009

emergência

mario quintana

Quem faz um poema abre uma janela
Respira, tu que estás numa cela
abafada,
esse ar que entra por ela.
Por isso é que os poemas têm ritmo
— para que possas, enfim, profundamente respirar.

Quem faz um poema salva um afogado.

domingo, 4 de outubro de 2009

changes

david bowie

Oh Yeah
Mmmm

Still don't know what I was waiting for
And my time was running wild
A million dead-end streets and
Every time I thought I'd got it made
It seemed the taste was not so sweet
So I turned myself to face me
But I've never caught a glimpse
Of how the others must see the faker
I'm much too fast to take that test

Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Don't wanna be a richer man
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Just gonna have to be a different man
Time may change me
But I can't trace time

Ooo yeah
I watch the ripples change their size
But never leave the stream
Of warm impermanence and
So the days float through my eyes
But still the days seem the same
And these children that you spit on
As they try to change their worlds
Are immune to your consultations
They're quite aware of what they're going through

Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Don't tell them to grow up and out of it
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Where's your shame
You've left us up to our necks in it
Time may change me
But you can't trace time

Strange fascination, fascinating me
Ah Changes are taking the pace I'm going through

Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Oh, look out you rock 'n rollers
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strange)
Ch-ch-Changes
Pretty soon now you're gonna get older
Time may change me
But I can't trace time
I said that time may change me
But I can't trace time

sábado, 3 de outubro de 2009

ch-ch-ch-ch-changes



mais sobre crianças. quem me mostrou foi a daniela arrais.

ouvindo: david bowie. suffragette city

os três mal-amados

joão cabral de melo neto

O amor comeu meu nome, minha identidade, meu retrato. O amor comeu minha certidão de idade, minha genealogia, meu endereço. O amor comeu meus cartões de visita. O amor veio e comeu todos os papéis onde eu escrevera meu nome.

O amor comeu minhas roupas, meus lenços, minhas camisas. O amor comeu metros e metros de gravatas. O amor comeu a medida de meus ternos, o número de meus sapatos, o tamanho de meus chapéus. O amor comeu minha altura, meu peso, a cor de meus olhos e de meus cabelos.

O amor comeu meus remédios, minhas receitas médicas, minhas dietas. Comeu minhas aspirinas, minhas ondas-curtas, meus raios-X. Comeu meus testes mentais, meus exames de urina.

O amor comeu na estante todos os meus livros de poesia. Comeu em meus livros de prosa as citações em verso. Comeu no dicionário as palavras que poderiam se juntar em versos.

Faminto, o amor devorou os utensílios de meu uso: pente, navalha, escovas, tesouras de unhas, canivete. Faminto ainda, o amor devorou o uso de meus utensílios: meus banhos frios, a ópera cantada no banheiro, o aquecedor de água de fogo morto mas que parecia uma usina.

O amor comeu as frutas postas sobre a mesa. Bebeu a água dos copos e das quartinhas. Comeu o pão de propósito escondido. Bebeu as lágrimas dos olhos que, ninguém o sabia, estavam cheios de água.

O amor voltou para comer os papéis onde irrefletidamente eu tornara a escrever meu nome.

O amor roeu minha infância, de dedos sujos de tinta, cabelo caindo nos olhos, botinas nunca engraxadas. O amor roeu o menino esquivo, sempre nos cantos, e que riscava os livros, mordia o lápis, andava na rua chutando pedras. Roeu as conversas, junto à bomba de gasolina do largo, com os primos que tudo sabiam sobre passarinhos, sobre uma mulher, sobre marcas de automóvel.

O amor comeu meu Estado e minha cidade. Drenou a água morta dos mangues, aboliu a maré. Comeu os mangues crespos e de folhas duras, comeu o verde ácido das plantas de cana cobrindo os morros regulares, cortados pelas barreiras vermelhas, pelo trenzinho preto, pelas chaminés. Comeu o cheiro de cana cortada e o cheiro de maresia. Comeu até essas coisas de que eu desesperava por não saber falar delas em verso.

O amor comeu até os dias ainda não anunciados nas folhinhas. Comeu os minutos de adiantamento de meu relógio, os anos que as linhas de minha mão asseguravam. Comeu o futuro grande atleta, o futuro grande poeta. Comeu as futuras viagens em volta da terra, as futuras estantes em volta da sala.

O amor comeu minha paz e minha guerra. Meu dia e minha noite. Meu inverno e meu verão. Comeu meu silêncio, minha dor de cabeça, meu medo da morte.


li no blog do alvarenga

ouvindo: travis. why does it always rain on me?

atualização em 18/10/09: vídeo muito bem indicado pelo nestor:





gostosura!!!

oh, the temptation from steve v on vimeo.

o trato é o seguinte: a criança pode comer o marshmallow. ou pode esperar para ganhar mais um.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

a propósito...

rubem alves (em cenas da vida)

assim é a alma, mina profunda e escura, onde se encontram, adormecidos e esquecidos, os nossos sonhos, as cenas que o amor tornou eternas.


ouvindo: muddy waters. manish boy

sábado, 12 de setembro de 2009

só pra reforçar

mario quintana

De uma feita, estava eu sentado sozinho num banco da Praça da Alfândega quando começaram a acontecer coisas incríveis no céu, lá pelas bandas da Casa de Correção: havia tons de chá, que se foram avinhando e se transformaram nuns roxos de insuportável beleza. Insuportável, porque o sentimento de beleza tem de ser compartilhado. Quando me levantei, depois de findo o espetáculo, havia umas moças conhecidas, paradas à esquina da Rua da Ladeira.

— Que crepúsculo fez hoje! — disse-lhes eu, ansioso de comunicação.

— Não, não reparamos em nada — respondeu uma delas. – Nós estávamos aqui esperando o Cezimbra.

E depois ainda dizem que as mulheres não têm senso de abstração...

ouvindo: milton nascimento. tristesse

mudança

o blog passou por umas mudanças essa semana. o nome já não era adequado, enjoei do layout e tal... (mas eu deixei um pedacinho no endereço antigo, pra redirecionar as pessoas).

permanece a descrição. não só permanece, como tem ligação direta com o novo nome e endereço. para que o poema do quintana se torne a alma deste lugar.

ouvindo: milton nascimento. casa aberta

sábado, 5 de setembro de 2009

60's

eu sou absolutamente fascinada pelos anos 60. arte, moda-cabelo-maquiagem, comportamento, história, enfim: tudo era mais bonito, inteligente e poético.

aí eu adorei isso:


ouvindo: milton nascimento. estrelada

foto do dia

mais em: chuva

ouvindo: tom jobim, miúcha & chico buarque. sei lá... a vida tem sempre razão

mamãe-eu-quero II

o all star mais bonito desse mundo!

ouvindo: beatles. yer blues

mamãe-eu-quero


a edição de luxo, por favor!

ouvindo: beatles. happiness is a warm gun

domingo, 30 de agosto de 2009

música do dia



a música é liiinda. e o vídeo, um charme à parte, ahn?

sábado, 29 de agosto de 2009

especial: carlos drummond de andrade

confesso que o drummond não é dos meus poetas preferidos. mas tenho verdadeira paixão por esses poemas:

Poema de Sete Faces

Quando nasci, um anjo torto
desses que vivem na sombra
disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida.

As casas espiam os homens
que correm atrás de mulheres.
A tarde talvez fosse azul,
não houvesse tantos desejos.

O bonde passa cheio de pernas:
pernas brancas pretas amarelas.
Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração.
Porém meus olhos
não perguntam nada.

O homem atrás do bigode
é sério, simples e forte.
Quase não conversa.
Tem poucos, raros amigos
o homem atrás dos óculos e do bigode.

Meu Deus, por que me abandonaste
se sabias que eu não era Deus
se sabias que eu era fraco.

Mundo mundo vasto mundo
se eu me chamasse Raimundo,
seria uma rima, não seria uma solução.
Mundo mundo vasto mundo,
mais vasto é meu coração.

Eu não devia te dizer
mas essa lua
mas esse conhaque
botam a gente comovido como o diabo.

Quadrilha


João amava Teresa que amava Raimundo
que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili
que não amava ninguém.
João foi para os Estados Unidos, Teresa para o convento,
Raimundo morreu de desastre, Maria ficou para tia,
Joaquim suicidou-se e Lili casou com J. Pinto Fernandes
que não tinha entrado na história.

Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

Os Ombros Suportam o Mundo


Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.

Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.

O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.

ouvindo: beatles. i`m so tired

linklist

não dá pra criar um tópico pra cada link legal que eu encontro. então resolvi fazer um post com todos os links-mais-legais-dos-últimos-tempos.

blog do andré valente: o projeto atual é ilustrar filmes. muito legal!

ângulo: super cult.

le blog de betty
: francesa linda e estilosa posta suas melhores produções.

garance doré: igualmente francês e estiloso. com ilustrações.

face hunter: também de streetstyle, mas cosmopolita. amei a série de fotos do japão.

quero te pegar sóbrio: o nome já indica o espírito romântico, reflexivo e bem-humorado do blog. mais ainda: é literatura da boa.

fim de expediente: um ator, um escritor e um economista discorrem sobre aleatoriedades. adoro!

graphjam: filosofia em gráficos.

the photographic dictionary
: é isso mesmo: um dicionário fotográfico.

favoritos: pega o espírito desse post e multiplica por um blog inteiro.

ouvindo: marcelo camelo. doce solidão

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

esquentando os motores

não, eu ainda não sei se vou falar sobre as próximas eleições presidenciais. vai depender dos candidatos (marina silva vem aí?), do meu estado de espírito e da configuração cósmica dos astros.

por enquanto deixo essa notícia, que me inspirou.

ouvindo: milton nascimento. beijo partido

sábado, 22 de agosto de 2009

o estripador de laranjeiras

carlos eduardo novaes

As pessoas estão com medo. Expressões tensas, gestos nervosos, olhares desconfiados, todos à beira do pânico. Uma simples faísca pode provocar a explosão.

Constatei esse clima uma tarde quando saí de casa para comprar pão. Parado na porta da padaria, já com os dois pãezinhos debaixo do braço, num momento de bobeira, acendi um cigarro, olhei o tempo e procurei pelas horas. Não havia relógio à minha volta. Vi uma senhora caminhando apressada pela calçada, bolsa apertada contra o peito. Aproximei-me, sem ser visto, e toquei de leve no seu ombro. A mulher virou-se e deu um berro monumental:
- UAAAAAIIIIII - E saiu correndo.

Precipitou-se uma reação em cadeia. A mulher correu para um lado, eu, sem saber do que se tratava, corri para o outro, o jornaleiro se abaixou atrás da banca, o empregado da padaria arriou rápido a porta de ferro, o guarda de trânsito, de um salto, escondeu-se atrás de um carro, algumas pessoas correram em busca de proteção e alguém gritou: "Pega ladrão". Ouvi o grito no meio da corrida, parei de estalo e olhei para os lados querendo saber em que direção ia o ladrão (naturalmente para tomar a direção oposta). Ao parar, observei um grupo a uns 30 metros de distância correndo na minha direção aos berros de "pega ladrão". Recomecei a correr e, por via das dúvidas, passei a gritar também "pega ladrão".

Será que o ladrão sou eu? - pensei enquanto corria. A turba que vinha atrás de mim, mostrava-se enfurecida demais para ouvir explicações. Dobrei a rua na disparada, vi um caminhão da PM estacionado e tratei de entrar no edifício onde mora um amigo meu, Rubem, médico homeopata.
- Que houve? - perguntou ele, ao me ver ofegante, com cara de raposa, aquela raposa perseguida nos campos ingleses por cachorros perdigueiros e cavaleiros de casacos vermelhos.
- Não sei, Rubem. Acho que estão perseguindo um assaltante aí na rua. Eu tô com medo. Posso ficar um pouco aqui em sua casa?
- Claro, claro. Fique à vontade. Eu já estava saindo. Vou lá no orelhão dar uns telefonemas. Talvez me demore. Você, por favor, não faça barulho que ma- mãe chegou agora da rua, foi dormir um pouquinho. Ela anda muito tensa com essa onda de assaltos, você sabe...

Rubem desceu. Dei um tempo para recuperar a respiração normal e fui até a janela ver se já haviam apanhado o ladrão. Quando abri a janela e meti a cara lembrei-me do Papa em suas aparições na sacada da Basílica de São Pedro: havia uma multidão na rua, que ao me ver começou a gritar:
- Olha ele lá - Tá lá o assaltante! - gritavam, apontando para mim. - Pega! Já invadiu um apartamento! Pega!
Quer dizer que o ladrão sou eu? Permaneci alguns segundos sem entender, depois passei a gritar para a turba lá embaixo, gesticulando:
- Não! Não sou eu, não! Eu não! Deve haver algum engano!

A turba não ouvia. Gritava e babava de ódio. Afastei-me da janela pensando em como me explicar melhor. Sem querer, esbarrei num vaso em cima de uma cristaleira. O vaso se esborrachou no chão com grande estardalhaço. Curvei-me em silêncio para catar os cacos e ouvi uma voz feminina atrás de mim:
- Rubem?
Quando me virei, a senhora fez uma expressão de pavor e correu para a janela aos berros:
- Socorro! Socorro! Me salvem! Ele me seguiu até aqui! Quer me matar com um caco de vidro!
Tentei me explicar. A senhora, em estado de choque, não ouvia nada:
- Ele vai me matar! Ele vai me matar! - uivava, debruçando-se na janela.

Que loucura! Antes de mais nada, pensei, tenho que tirar essa velha doida da janela. Aproximei-me, tapei-lhe a boca e puxei-a para dentro. Naturalmente, fui visto pela multidão lá embaixo que, diante da cena, passou a entoar um novo coro:
- Olha lá! Olha lá! Ele vai matar a velha!
- É o tarado da Gago Coutinho! Só ataca velhas!
- Peguem o assassino!
- Peguem o Estripador de Laranjeiras!

A essa altura havia milhares de pessoas na rua. A PM, que pedira reforços, passou um cordão de isolamento diante do prédio e já contava com apoio da Polícia do Exército, do Corpo de Bombeiros, dos Fuzileiros Navais. Alguns helicópteros sobrevoavam o edifício. Dentro do apartamento, eu rolava pelo chão numa luta corporal com a velha. Como não sossegasse, fui obrigado a lhe aplicar um golpe de caratê para que desmaiasse. Depois, ao acordar eu daria as explicações necessárias e pediria desculpas. Levantei-me, deixando a senhora com as vestes rasgadas estirada no tapete. Ouvi, então, uma voz vindo da rua através de um alto-falante:
- Atenção! Atenção, Estripador de Laranjeiras, se você não sair, nós vamos entrar! Deixe suas armas e saia pela portaria principal com as mãos sobre a cabeça! Atenção, Estripador, você tem cinco minutos para sair!

Juro que não sabia o que fazer. Olhei à volta. Minhas armas eram dois pãezinhos franceses. Tinha saído para comprar pão e só porque a população da cidade está tensa já virei o Estripador de Laranjeiras. Onde está o Rubem que não chega? Rubem, atrás do cordão de isolamento, discutia com o coronel-chefe da Operação Estripador.
- O senhor não pode entrar! - dizia o coronel.
- Mas eu moro aqui no prédio.
- Sinto muito, mas tem um assassino à solta dentro do prédio. Só estamos autorizando as pessoas a sair. Entrar, nunca!
- Eu só saí para dar uns telefonemas, - insistiu Rubem. - Estou com um amigo lá em casa.
- Qual é o apartamento em que o senhor mora?
Rubem caiu na asneira de apontar. O coronel arregalou os olhos.
- Mas é onde está escondido o Estripador de Laranjeiras!
- O quêêê? - berrou Rubem.

E não teve tempo de dizer mais nada. O coronel gritou: "é cúmplice" e imediatamente um bando de policiais caiu sobre o Rubem, arrastando-o para um camburão.
- Pegamos o cúmplice - disse o coronel para o capitão. - Agora só falta o Estripador. Quantos minutos já se passaram?
- Quatro! Se ele não sair, coronel, creio que só há uma solução: pedir aos moradores para evacuarem o prédio e implodí-lo.
- Atenção, Estripador - berrou o coronel no megafone. - Você tem apenas um minuto para descer. Largue essa velhinha, que nada lhe acontecerá!

Lá embaixo os boatos fervilhavam. Ninguém tinha dúvidas de que eu havia invadido o apartamento daquela senhora. Algumas pessoas, enquanto aguardavam o desfecho, diziam aos policiais que o Estripador tinha preferência por senhoras com mais de 70 anos. No apartamento, eu não sabia o que fazer. Ficar seria pior: eles acabariam arrombando a porta e, como nos filmes, iam entrar atirando. Resolvi me apresentar. Desci os três andares pela escada e parei na porta do prédio, segurando sobre a cabeça, com as duas mãos, o embrulhinho cinza da padaria. Um silêncio de espanto correu pela espinha da multidão. Observei as pessoas cochichando.
- Olha a cara dele! Cara de facínora!
- Repara no ar de tarado! Olha as olheiras! É um criminoso típico! Não engana ninguém!
Escutei os ruídos de algumas armas sendo engatilhadas. O coronel, à distância, gritou para mim:
- Jogue fora essa arma que você tem aí embrulhada, Estripador.
- Não é arma: é o meu pão!

O coronel deu um sorriso de descrença. Entre eu, na porta do prédio, e a tropa havia uma distância de uns 20 metros. Desembrulhei o pão e joguei-o aos pés do coronel. O coronel ao ver aquele objeto (não identificável) voando na sua direção, correu e gritou:
- Corram! Abaixem-se!
Foi uma correria infernal. Abriu-se uma clareira em torno do pão que caiu, quicou duas vezes e parou. Todos olhavam para o pão esperando que explodisse a qualquer momento. Ninguém tinha coragem de se aproximar.
- Vá chamar um desativador de bombas - disse o coronel, olhando de binóculos para o artefato de trigo. - Diga que a bomba está dentro de um pão. . . um pão francês.

Como o pão não explodiu, a tropa de choque levantou-se e foi caminhando para ele, com vagar e temor. Quando já estavam a um metro do pão, eu, que continuava parado na porta do prédio, joguei o segundo. Saiu todo mundo correndo novamente. Coloquei as mãos na cabeça e me entreguei ao coronel. - Que é que você estava fazendo com esses pães, Estripador?
- Tinha acabado de comprar. Saí só pra comprar pão.
- Sei, sei. Conta outra, Estripador - comentou o coronel com um sorriso irônico - quer me dizer que esse alvoroço todo foi só porque você saiu para com- prar pão?
- Não, senhor. Tudo isso aconteceu porque eu fui perguntar as horas a uma senhora.
- Perguntar as horas? - repetiu o coronel sem acreditar.

O coronel chamou o capitão. Ouvi quando ele disse baixinho: "Trata-se de um louco; traga uma camisa de força; vamos interná-lo num hospital psiquiátrico". No momento em que eu ia começar a me explicar, aproximou-se um sargento que tinha ido revistar o apartamento dizendo que a senhora estava desmaiada na sala com as vestes rasgadas. Bem, aí desisti e tratei de me compenetrar que eu era mesmo o Estripador de Laranjeiras.

ouvindo: milton nascimento. imagem e semelhança

terça-feira, 11 de agosto de 2009

música do dia

a música do dia, na verdade, são três.

a história começa comigo escutando o disco milton nascimento & belmondo. fiquei absolutamente maravilhada com a versão de travessia. como é de praxe, corri pro youtube pra colocá-la aqui. uma pena: não achei. mas achei essa outra versão, também muito bonita:




desse mesmo show vem esse outro vídeo, meu xodó já há mais tempo, por ser umas das minhas músicas preferidas:




e foi nessa busca despretenciosa que encontrei a pérola do dia. milton e chico. (que se estapeiam pelo título de meu artista preferido). e não é só isso. nunca vi algo que demonstrasse tão bem o meu conceito de beleza. (importante, né? pois é.)




ouvindo: milton nascimento & belmondo. nada será como antes

terça-feira, 28 de julho de 2009

pneumotórax

manuel bandeira
Febre, hemoptise, dispnéia e suores noturnos.
A vida inteira que podia ter sido e que não foi.
Tosse, tosse, tosse.

Mandou chamar o médico:
- Diga trinta e três.
- Trinta e três… trinta e três… trinta e três…
- Respire.

- O senhor tem uma escavação no pulmão esquerdo e o pulmão direito infiltrado.
- Então, doutor, não é possível tentar o pneumotórax?
- Não. A única coisa a fazer é tocar um tango argentino.

ouvindo: chico buarque. paratodos

pílula de sabedoria, com chico buarque

existem pessoas com mau caráter nesse mundo. pessoas perigosas. elas exigem que você construa uma barreira, muito bem definida, entre elas e você. elas não costumam deixar que você ultrapasse essa barreira. se isso acontecer, não se engane, elas saberão cobrar. até aqui, fácil. o pulo do gato é também não deixar que elas invadam o seu espaço. não queira ser bonzinho. elas não serão gratas. e invadirão cada vez mais, até que um dia você perceberá que a barreira encolheu. e te sufocou.

e o que o chico buarque tem a ver com isso? uma canção.

Injuriado

Se eu só lhe fizesse o bem
Talvez fosse um vício a mais
Você me
teria desprezo por fim
Porém não fui tão imprudente
E agora não há
francamente
Motivo pra você me injuriar assim

Dinheiro não lhe
emprestei
Favores nunca lhe fiz
Não alimentei o seu gênio ruim
Você
nada está me devendo
Por isso, meu bem, não entendo
Porque anda agora
falando de mim


ouvindo: chico buarque. homenagem ao malandro

terça-feira, 21 de julho de 2009

afrosambajazz

primeiro é preciso saber o que são os afro-sambas. (santa wikipedia! alguém sabe qual o site mais linkado do mundo? eu voto nesse!)

ok. continuemos:

tem um tempo que eu comecei a ler em vários lugares sobre um disco lançado esse ano, o afrosambajazz, do mario adnet e philippe baden powell (yeah, filho do cara). a idéia foi pegar alguns dos afro-sambas - muitos até desconhecidos - e rearranjá-los de uma forma mais jazzística. entre as várias participações, destaco a mônica salmaso. porque, além da vozquedispensafalação, ela mesma já gravou um disco inteiro de afro-sambas, com o paulo bellinati.

mas voltando ao afrosambajazz... fiquei doida pra baixar esse disco e não consigo de jeito nenhum! mas eis que de repente, não mais que de repente (perdoem-me, não resisti)... descubro que vai ter show aqui em bh!!! isso isso isso!!! palácio das artes, grande teatro, 05 e 06 de agosto, 15 a meia. anotaí. queria colocar o link do palácio, mas parece que o site tá fora do ar. mas eu juro que é verdade! e parece que a mônica salmaso vem junto, o que seria a cereja do bolo, mas eu não garanto.


ouvindo: bob dylan. everything is broken
atualização: link do palácio.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

o amor acaba

paulo mendes campos


O amor acaba. Numa esquina, por exemplo, num domingo de lua nova, depois de
teatro e silêncio; acaba em cafés engordurados, diferentes dos parques de ouro
onde começou a pulsar; de repente, ao meio do cigarro que ele atira de raiva
contra um automóvel ou que ela esmaga no cinzeiro repleto, polvilhando de cinzas
o escarlate das unhas; na acidez da aurora tropical, depois duma noite votada à
alegria póstuma, que não veio; e acaba o amor no desenlace das mãos no cinema,
como tentáculos saciados, e elas se movimentam no escuro como dois polvos de
solidão; como se as mãos soubessem antes que o amor tinha acabado; na insônia
dos braços luminosos do relógio; e acaba o amor nas sorveterias diante do
colorido iceberg, entre frisos de alumínio e espelhos monótonos; e no olhar do
cavaleiro errante que passou pela pensão; às vezes acaba o amor nos braços
torturados de Jesus, filho crucificado de todas as mulheres; mecanicamente, no
elevador, como se lhe faltasse energia; no andar diferente da irmã dentro de
casa o amor pode acabar; na epifania da pretensão ridícula dos bigodes; nas
ligas, nas cintas, nos brincos e nas silabadas femininas; quando a alma se
habitua às províncias empoeiradas da Ásia, onde o amor pode ser outra coisa, o
amor pode acabar; na compulsão da simplicidade simplesmente; no sábado, depois
de três goles mornos de gim à beira da piscina; no filho tantas vezes semeado,
às vezes vingado por alguns dias, mas que não floresceu, abrindo parágrafos de
ódio inexplicável entre o pólen e o gineceu de duas flores; em apartamentos
refrigerados, atapetados, aturdidos de delicadezas, onde há mais encanto que
desejo; e o amor acaba na poeira que vertem os crepúsculos, caindo imperceptível
no beijo de ir e vir; em salas esmaltadas com sangue, suor e desespero; nos
roteiros do tédio para o tédio, na barca, no trem, no ônibus, ida e volta de
nada para nada; em cavernas de sala e quarto conjugados o amor se eriça e acaba;
no inferno o amor não começa; na usura o amor se dissolve; em Brasília o amor
pode virar pó; no Rio, frivolidade; em Belo Horizonte, remorso; em São Paulo,
dinheiro; uma carta que chegou depois, o amor acaba; uma carta que chegou antes,
e o amor acaba; na descontrolada fantasia da libido; às vezes acaba na mesma
música que começou, com o mesmo drinque, diante dos mesmos cisnes; e muitas
vezes acaba em ouro e diamante, dispersado entre astros; e acaba nas
encruzilhadas de Paris, Londres, Nova Iorque; no coração que se dilata e quebra,
e o médico sentencia imprestável para o amor; e acaba no longo périplo, tocando
em todos os portos, até se desfazer em mares gelados; e acaba depois que se viu
a bruma que veste o mundo; na janela que se abre, na janela que se fecha; às
vezes não acaba e é simplesmente esquecido como um espelho de bolsa, que
continua reverberando sem razão até que alguém, humilde, o carregue consigo; às
vezes o amor acaba como se fora melhor nunca ter existido; mas pode acabar com
doçura e esperança; uma palavra, muda ou articulada, e acaba o amor; na verdade;
o álcool; de manhã, de tarde, de noite; na floração excessiva da primavera; no
abuso do verão; na dissonância do outono; no conforto do inverno; em todos os
lugares o amor acaba; a qualquer hora o amor acaba; por qualquer motivo o amor
acaba; para recomeçar em todos os lugares e a qualquer minuto o amor
acaba.

post copiado do blog do alvarenga

sábado, 18 de julho de 2009

tirinha do dia


mais em kioskerman, uma indicação do alexandre inagaki
ouvindo: bob dylan. silvio

sexta-feira, 17 de julho de 2009

brownie da thalita

pra você que passou o icb se deliciando com essa iguaria... ou pra você que nunca teve esse privilégio e só soube da fama... sim: EU TENHO A RECEITA! e divido com vocês, claro.

agradeço à dona da receita, por responder ao meu pedido prontamente, com a gentileza que lhe é peculiar...

eis a transcrição da receita:

BROWNIE

Ingredientes:
1/2 xícara de chocolate dos padres
(você entende né, aquele chocolate em pó que vem em caixinha e que não é
achocolatado)
1 xícara de manteiga ou margarina
2 xícaras de açúcar
1 1/2 de farinha de trigo
2 colheres de chá de baunilha
1/2 colher
de chá de sal
4 ovos

Modo de preparo:
Misture o chocolate, manteiga, e o açúcar, depois adicione a baunilha. Gradualmente adicione os ovos, um por um. Depois misture a farinha e o sal. Coloque no forno médio por mais ou menos 35 minutos.

Manda colocar lasquinhas de chocolate por cima, mas eu faço um
brigadeiro e coloco, fica maravilhoso.

Ah! e sempre vão bem aquelas pitadinhas de amor... hahahaha

ouvindo: bob dylan. just like a woman

segunda-feira, 13 de julho de 2009

"quando queres algo dos gêmeos..."

assim, entre aspas, porque eu copiei!



todo mundo sabe que eu curto astrologia e pá e tal. só que esse é um site diferente dos que eu conhecia. tem uma "levada" mais artística...

lá eu descobri que caetano tem lua em gêmeos. e o chico também. além de sol, mercúrio, vênus e saturno! tudinho no MEU signo! imagina se eu gostei. e acrescento: sabe o bob dylan? (esse mesmo, dos dois posts anteriores...) também é geminiano!

aiai.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

forever young

bob dylan
may God bless and keep you always,
may your wishes all come true,
may you always do for others
and let others do for you.
may you build a ladder to the stars
and climb on every rung,
may you stay forever young,
forever young, forever young,
may you stay forever young.

may you grow up to be righteous,
may you grow up to be true,
may you always know the truth
and see the lights surrounding you.
may you always be courageous,
stand upright and be strong,
may you stay forever young,
forever young, forever young,
may you stay forever young.

may your hands always be busy,
may your feet always be swift,
may you have a strong foundation
when the winds of changes shift.
may your heart always be joyful,
may your song always be sung,
may you stay forever young,
forever young, forever young,
may you stay forever young.

ouvindo: bob dylan. forever young

segunda-feira, 6 de julho de 2009

post 3 em 1

dica de artista, música e documentário:



porque o bob dylan e eu compartilharmos a mesma angústia.

ouvindo: bob dylan. it ain't me, baby

sexta-feira, 3 de julho de 2009

annie hall

sobre esse filme, 3 considerações:

1) a história da minha vida.

groucho marx
eu nunca pertenceria a um clube que me aceitasse como sócio.

2) o figurino da diane keaton.













esqueça as legendas. atenção para os óculos - a partir de 04:11.

3) o woody allen. ah, o woody allen!...


sexta-feira, 26 de junho de 2009

quinta-feira, 25 de junho de 2009

foto do dia




ouvindo: luiz melodia. estácio, eu e você

sexta-feira, 19 de junho de 2009

multiplicando posts - parte II

aproveitando o ensejo, vou dar a mesma dica que esse post.

mas antes, um aviso:

cuidado, o próximo link é altamente viciante.

pronto, avisei.

quem, ainda assim, quiser continuar, conheça o looklet.

é simplesmente um site onde você pode montar as mais incríveis/loucas/desejáveis/meudeusdocéu produções. com roupas e modelos de verdade!!!

eu já fiz um monte, olha!

quem se cadastrar, me manda o link!

ouvindo: caetano veloso. for no one

quinta-feira, 18 de junho de 2009

multiplicando posts

eu sei, é feio copiar posts. maaas... colocando os créditos direitinho, que mal tem, né?

é que eu fiquei realmente impressionada essa semana... vamos lá:

o primeiro é do blog do tas, divulgando o filme "apenas o fim", feito por estudantes de cinema da PUC-RJ. O diretor, e roteirista, tem apenas 20 anos! e o orçamento foi de apenas 8000 reais! doido, né? olha o trailer:


fiquei afinzaça de assistir e fui saber se tava passando aqui em bh. descobri que não, não tá passando. e também descobri vááárias críticas, que só me deixaram com mais vontade: leia, leia, leia. e aí, descobri o mais legal: os caras fizeram um blog pro protagonista do filme! ambientado em época anterior à do filme, ele diz que sua namorada está estranha, que ele acha que ela vai terminar com ele etc... e pede conselhos! daí surgiram vários vídeos - de atores, humoristas, enfim... é muita esperteza pra muito pouca idade, né?

quero pontuar uma parte do primeiro post, que eu achei bárbara (by the way, os posts são muito bem escritos):

Por que fazer um blog então?
Por vários motivos. Não tenho mais a menor paciência para Orkut. Facebook é sofisticado demais pra mim. Last.fm agora é paga. Fotolog é 2003 demais. Blip.fm é 2011 demais pra mim. E criar mais um Twitter, exclusivo para meus objetivos de agora, só vai arruinar ainda mais minha vida social. Afinal, se com um Twitter eu já esqueço do aniversário da minha mãe, com dois eu vou trocar ela por um Guitar Hero World Tour no Mercado Livre e nem vou perceber.

sem contar que esse mesmo post começa com a clássica apresentação em grupos de auto-ajuda (alô, grupo de 10!!!):

- Oi, eu sou o Tom.
- “Oooi Tom”

pois bem. eu ainda tava digerindo essas informações, quando leio esse post, sobre uma menina de 12 anos, super ligada em moda e tal. ela fez um blog, onde ela posta alguns de seus looks, conta de suas influências e, entre outras coisas, (pasmem!) critica coleções. tudo com estilo e postura de gente grande. ela tem um blog e um flickr. ambos eu recomendo de coração.

conclusão: tem um povo muito precoce nesse mundo, né???

isso tudo me deixou com um sentimento muito bom, um dos meus preferidos: uma fugaz consciência sobre o mundo de coisas a serem feitas, descobertas, admiradas. é por isso que virou post. queria que todo mundo sentisse isso também.

ouvindo: caetano veloso. for no one

sábado, 13 de junho de 2009

momento mulherzinha, back and again


gente, tudibom o blog dessas meninas.
um perigo até: elas atualizam muito! tão me deixando viciada...

ouvindo: oasis. morning glory

momento rockinho


agradecimento especial ao gui, por ter ressuscitado o (what's the story) morning glory? na minha vida!

ouvindo: oasis. she's eletric

sexta-feira, 12 de junho de 2009

marcela bellas


estava eu numa pasmaceira musical danada, quase em desespero, quando resolvi sacar minha arma infalível: sintonia fina!

de cara me interessei pela descrição da baiana marcela bellas: "samba moderno, com guitarras pesadas e levada deliciosa". no site oficial da cantora - liiindo de morrer! - ela é descrita como "fã incondicional de secos e molhados, novos baianos, caymmi e apaixonada pelos versos das músicas de caetano". concluí: meu número.

o resto da história você pode completar, fazendo o download dos discos "leve" e "será que caetano vai gostar?" - disponíveis no site da cantora mesmo, esperta que é.

(pausa para tutorial: no site, clique em download. escolha o disco e clique na CAPA do mesmo. se você clicar no nome, você só poderá ouvir as músicas no próprio site.)

destaco a versão de "bloco do prazer", de fausto nilo e moraes moreira:

vem meu amor feito louca
que a vida tá pouca
e eu quero muito mais
mais que essa dor que arrebenta
paixão violenta
oitenta carnavais

ouvindo: marcela bellas. me leve

quinta-feira, 11 de junho de 2009

the sartorialist

este é o blog de streetstyle mais acessado do mundo. não é à toa: visual clean, sem muita falação, com destaque pras fotos lindíssimas do autor - tiradas inicialmente em nova york, mas que acabaram alcançando o mundo todo... tem até o rio, olha só:


são fotos de pessoas, muito mais que de looks. é por isso que vai pros meus favoritos!

ah! foi inspiração pro advanced style, já citado aqui.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

(explosão)

acabo de ler "a hora da estrela". é a primeira vez que leio clarice lispector. tentei ler "a cidade sitiada" antes, mas achei denso, difícil, parei no meio.

com "a hora da estrela" foi diferente... recomendo! (especialmente para quem quer conhecer a autora, como eu).

a protagonista se chama macabéa e sua história é contada por rodrigo s. m., um autor fictício. deixo o próprio falar:

Se há veracidade nela - e é claro que a história é verdadeira embora inventada - que cada um a reconheça em si mesmo porque todos nós somos um e quem não tem pobreza de dinheiro tem pobreza de espírito ou saudade por lhe faltar coisa mais preciosa que o ouro - existe a quem falte o delicado essencial.

Como é que sei que tudo o que vai se seguir e que ainda o desconheço, já que nunca o vivi? É que numa rua do Rio de Janeiro peguei no ar de relance o sentimento de perdição no rosto de uma moça nordestina. Sem falar que eu em menino me criei no Nordeste. Também sei das coisas por estar vivendo. Quem vive sabe, mesmo sem saber que sabe. Assim é que os senhores sabem mais do que imaginam e estão fingindo de sonsos.

Proponho-me a que não seja complexo o que escreverei, embora obrigado a usar as palavras que vos sustentam. A história - determino com falso livre-arbítrio - vai ter uns sete personagens e eu sou um dos mais importantes deles, é claro. Eu, Rodrigo S. M. Relato antigo, este, pois não quero ser modernoso e inventar modismos à guisa de originalidade. Assim é que experimentarei contra os meus hábitos uma história com começo, meio e "gran finale" seguido de silêncio e de chuva caindo.

...

Porque há o direito ao grito.
Então eu grito.

...

Quero antes afiançar que essa moça não se conhece senão de ir vivendo à toa. Se tivesse a tolice de se perguntar "quem sou eu?" cairia estatelada e em cheio no chão. É que "quem sou eu?" provoca necessidade. E como satisfazer a necessidade? Quem se indaga é incompleto.

ouvindo: velvet underground. all tomorrow's parties

sábado, 6 de junho de 2009

coisa de moça fina

bom de ler, gostoso de ver.
a autora:

O sonho da Yara é ver um mundo livre de baby looks. Em que as meninas precisem de blush como precisam de água. No mundo perfeito da Yara, quem anda com a barriga de fora não tem amigos e a viscolycra é usada com muita, muita parcimônia. No blog Coisa de Moça Fina, Yara faz campanha por um mundo mais charmoso, um post por vez.

lideumavezsódecaboarabo.

sexta-feira, 5 de junho de 2009

mamãe-eu-quero




por quê? acompanha comigo:






mas de onde veio isso, deus do céu?



audrey hepburn, em breakfast at tiffany's

ouvindo: maria rita. cara valente

só perguntas



históóórico esse jogo!

quinta-feira, 4 de junho de 2009

Que mil flores floresçam

A reunião da OEA em Honduras revogou, por aclamação, a resolução de 1962 que expulsou Cuba da Organização dos Estados Americanos.
E quando digo que foi por aclamação, registro que foi por aceitação explícita dos Estados Unidos, principal propositor da expulsão de Cuba desde 1961.


Grande Obama!

A partir de hoje, a volta de Cuba à OEA depende única e exclusivamente do governo cubano.


Essa expulsão de Cuba tem muito a ver com o Brasil.

A Revolução Cubana data de 1959, mas foi no aniversário da revolução, em 26 de julho de 1961, que Fidel Castro pronunciou o histórico discurso: “Yo soy marxista-leninista”.

Logo em seguida, os Estados Unidos convocaram uma conferência da OEA em Punta del Este (Uruguai) e, agressivamente, propuseram o bloqueio econômico e a expulsão de Cuba da organização.

(Eram tempos de Guerra Fria, e tudo o que os americanos não queriam era um foco de sovietismo em seu “quintal”, como se dizia na época. A teoria do “backyard”.)

No Brasil, era o governo Jânio Quadros. Jânio fora a Cuba, na campanha eleitoral (já revolucionária, mas ainda não marxista-leninista). Fidel, em retribuição, visitou o Brasil, no primeiro semestre de 1961.

Entretanto, com a adesão de Fidel ao marxismo-leninismo, em julho de 1961, a Conferência de Punta del Este realizou-se sob a égide do radicalismo típico da Guerra Fria.

Os Estados Unidos apresentaram a proposta de bloqueio econômico a Cuba e sua expulsão da OEA. A delegação brasileira, chefiada pelo ministro das Relações Exteriores, Afonso Arinos de Mello Franco, bateu-se veementemente contra qualquer sanção contra Cuba.

E a tese foi vencedora, ao menos por omissão. Adiou-se a decisão.


O chefe da delegação cubana, ministro da Economia Ernesto “Che” Guevara, fez escala em Brasília antes de retornar a seu país, para agradecer a atuação brasileira.


Recebido pelo presidente Jânio Quadros em 19 de agosto de 1961, Guevara foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul, honraria tradicionalmente concedida a importantes autoridades estrangeiras.


Imediatamente, o líder dos exilados cubanos no Brasil, Manuel António Verona, articulou uma reação. Somou-se a isso a reação do líder político contra Jânio, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda.


Lacerda, convencido, com muita razão, aliás, de que Jânio queria dar um golpe, usou a condecoração a Guevara para sua pregação contra o presidente da República.


A renúncia do presidente Jânio Quadro em 25 de agosto reforçou o debate entre pró-comunistas e anticomunistas.


Ainda mais, a condecoração a Ernesto Guevara constituiu forte argumento para o golpe de 31 de março de 1964 e para a cassação do ex-presidente Jânio Quadros, na primeira lista de cassados do Ato Institucional nº1, editado em 09 de abril de 1964.


Portanto, a decisão de hoje é histórica, não só para as Américas, porque permite a reinserção de Cuba no concerto das nações do continente, mas também para o Brasil, tendo em vista as ligações entre a condecoração do ministro Guevara e a queda de Jânio Quadros, sua cassação e, de certa forma, a preparação para o golpe de 64.


A data realça a radicalização da Guerra Fria e as bobagens perigosas cometidas pelos generais brasileiros.


Que Cuba seja bem-vinda à OEA e ao concerto das nações democráticas do continente americano.


Que a frondosa árvore de democracia possa florescer também em solo cubano!


publicado em lucia hipollito, em 04/06/09.

ouvindo: maria rita. muito pouco

pérola do dia

olha o que eu encontro: nada mais, nada menos que o caderno de saramago. chique, né? já tá nos favoritos!

quarta-feira, 3 de junho de 2009

blog irmão

anteontem, numa das minhas andanças por essa internet de meu deus... encontrei o blog do alvarenga. fiquei feliz: compartilhamos a mesma filosofia!

comentei isso com ele, no mesmo dia ele me respondeu e hoje vi meu link lá!

moral da história: viva a internet!!!

ouvindo: maria rita. corpitcho

segunda-feira, 1 de junho de 2009

pérola do dia


quem gosta de beatles clica aqui!

ouvindo: bob dylan. mr tambourine man

coisas incríveis no céu e na terra

mario quintana
De uma feita, estava eu sentado sozinho num banco da Praça da Alfândega quando começaram a acontecer coisas incríveis no céu, lá pelas bandas da Casa de Correção: havia tons de chá, que se foram avinhando e se transformaram nuns roxos de insuportável beleza. Insuportável, porque o sentimento de beleza tem de ser compartilhado. Quando me levantei, depois de findo o espetáculo, havia umas moças conhecidas, paradas à esquina da Rua da Ladeira.

— Que crepúsculo fez hoje! — disse-lhes eu, ansioso de comunicação.

— Não, não reparamos em nada — respondeu uma delas. – Nós estávamos aqui esperando o Cezimbra.

E depois ainda dizem que as mulheres não têm senso de abstração...

crédito da nova descrição do blog!

ouvindo: zeca pagodinho. saudade louca

atualização em 12/09/09: crédito também do novo nome do blog.

domingo, 31 de maio de 2009

bichinhos de jardim


uma fofura sem tamanho!

ouvindo: beach boys. sloop john b

santa chuva



vídeo indicado pela liana =)

ouvindo: marcelo camelo. saudade

sábado, 30 de maio de 2009

blogs e tal

há tempos eu procuro um bom blog de notícias. é que... eu admito: não consigo acompanhar noticiários! acho beeem mais legal notícias selecionadas e comentadas pessoalmente. bem, nessa minha busca - ainda não finalizada - encontrei essa matéria, da revista época, com uma seleção de 80 blogs que merecem ser acompanhados.

já selecionei alguns pra futucar. à medida que eles passarem pelo meu crivo (hehe), eu posto aqui. de qualquer forma, fica o link pra quem também quiser futucar...

mas fica a pergunta: alguém quer me indicar o blog de notícias?

ouvindo: zeca pagodinho. saudade louca

sexta-feira, 29 de maio de 2009

(sem título)


peguei no blog da nay

ouvindo: zeca pagodinho. minha fé

ser brotinho

continuando a série "velhas influências"...

paulo mendes campos
Ser brotinho não é viver em um píncaro azulado: é muito mais! Ser brotinho é sorrir bastante dos homens e rir interminavelmente das mulheres, rir como se o ridículo, visível ou invisível, provocasse uma tosse de riso irresistível.

Ser brotinho é não usar pintura alguma, às vezes, e ficar de cara lambida, os cabelos desarrumados como se ventasse forte, o corpo todo apagado dentro de um vestido tão de propósito sem graça, mas lançando fogo pelos olhos. Ser brotinho é lançar fogo pelos olhos.

É viver a tarde inteira, em uma atitude esquemática, a contemplar o teto, só para poder contar depois que ficou a tarde inteira olhando para cima, sem pensar em nada. É passar um dia todo descalça no apartamento da amiga comendo comida de lata e cortar o dedo. Ser brotinho é ainda possuir vitrola própria e perambular pelas ruas do bairro com um ar sonso-vagaroso, abraçada a uma porção de elepês coloridos. É dizer a palavra feia precisamente no instante em que essa palavra se faz imprescindível e tão inteligente e natural. É também falar legal e bárbaro com um timbre tão por cima das vãs agitações humanas, uma inflexão tão certa de que tudo neste mundo passa depressa e não tem a menor importância.

Ser brotinho é poder usar óculos como se fosse enfeite, como um adjetivo para o rosto e para o espírito. É esvaziar o sentido das coisas que transbordam de sentido, mas é também dar sentido de repente ao vácuo absoluto. É aguardar com paciência e frieza o momento exato de vingar-se da má amiga. É ter a bolsa cheia de pedacinhos de papel, recados que os anacolutos tornam misteriosos, anotações criptográficas sobre o tributo da natureza feminina, uma cédula de dois cruzeiros com uma sentença hermética escrita a batom, toda uma biografia esparsa que pode ser atirada de súbito ao vento que passa. Ser brotinho é a inclinação do momento.

É telefonar muito, estendida no chão. É querer ser rapaz de vez em quando só para vaguear sozinha de madrugada pelas ruas da cidade. Achar muito bonito um homem muito feio; achar tão simpática uma senhora tão antipática. É fumar quase um maço de cigarros na sacada do apartamento, pensando coisas brancas, pretas, vermelhas, amarelas.

Ser brotinho é comparar o amigo do pai a um pincel de barba, e a gente vai ver está certo: o amigo do pai parece um pincel de barba. É sentir uma vontade doida de tomar banho de mar de noite e sem roupa, completamente. É ficar eufórica à vista de uma cascata. Falar inglês sem saber verbos irregulares. É ter comprado na feira um vestidinho gozado e bacanérrimo.

É ainda ser brotinho chegar em casa ensopada de chuva, úmida camélia, e dizer para a mãe que veio andando devagar para molhar-se mais. É ter saído um dia com uma rosa vermelha na mão, e todo mundo pensou com piedade que ela era uma louca varrida. É ir sempre ao cinema mas com um jeito de quem não espera mais nada desta vida. É ter uma vez bebido dois gins, quatro uísques, cinco taças de champanha e uma de cinzano sem sentir nada, mas ter outra vez bebido só um cálice de vinho do Porto e ter dado um vexame modelo grande. É o dom de falar sobre futebol e política como se o presente fosse passado, e vice-versa.

Ser brotinho é atravessar de ponta a ponta o salão da festa com uma indiferença mortal pelas mulheres presentes e ausentes. Ter estudado ballet e desistido, apesar de tantos telefonemas de Madame Saint-Quentin. Ter trazido para casa um gatinho magro que miava de fome e ter aberto uma lata de salmão para o coitado. Mas o bichinho comeu o salmão e morreu. É ficar pasmada no escuro da varanda sem contar para ninguém a miserável traição. Amanhecer chorando, anoitecer dançando. É manter o ritmo na melodia dissonante. Usar o mais caro perfume de blusa grossa e blue-jeans. Ter horror de gente morta, ladrão dentro de casa, fantasmas e baratas. Ter compaixão de um só mendigo entre todos os outros mendigos da Terra. Permanecer apaixonada a eternidade de um mês por um violinista estrangeiro de quinta ordem. Eventualmente, ser brotinho é como se não fosse, sentindo-se quase a cair do galho, de tão amadurecida em todo o seu ser. É fazer marcação cerrada sobre a presunção incomensurável dos homens. Tomar uma pose, ora de soneto moderno, ora de minueto, sem que se dissipe a unidade essencial. É policiar parentes, amigos, mestres e mestras com um ar songamonga de quem nada vê, nada ouve, nada fala.

Ser brotinho é adorar. Adorar o impossível. Ser brotinho é detestar. Detestar o possível. É acordar ao meio-dia com uma cara horrível, comer somente e lentamente uma fruta meio verde, e ficar de pijama telefonando até a hora do jantar, e não jantar, e ir devorar um sanduíche americano na esquina, tão estranha é a vida sobre a Terra.

ouvindo: amy winehouse. moody's mood for love