A reunião da OEA em Honduras revogou, por aclamação, a resolução de 1962 que expulsou Cuba da Organização dos Estados Americanos.
E quando digo que foi por aclamação, registro que foi por aceitação explícita dos Estados Unidos, principal propositor da expulsão de Cuba desde 1961.
Grande Obama!
A partir de hoje, a volta de Cuba à OEA depende única e exclusivamente do governo cubano.
Essa expulsão de Cuba tem muito a ver com o Brasil.
A Revolução Cubana data de 1959, mas foi no aniversário da revolução, em 26 de julho de 1961, que Fidel Castro pronunciou o histórico discurso: “Yo soy marxista-leninista”.
Logo em seguida, os Estados Unidos convocaram uma conferência da OEA em Punta del Este (Uruguai) e, agressivamente, propuseram o bloqueio econômico e a expulsão de Cuba da organização.
(Eram tempos de Guerra Fria, e tudo o que os americanos não queriam era um foco de sovietismo em seu “quintal”, como se dizia na época. A teoria do “backyard”.)
No Brasil, era o governo Jânio Quadros. Jânio fora a Cuba, na campanha eleitoral (já revolucionária, mas ainda não marxista-leninista). Fidel, em retribuição, visitou o Brasil, no primeiro semestre de 1961.
Entretanto, com a adesão de Fidel ao marxismo-leninismo, em julho de 1961, a Conferência de Punta del Este realizou-se sob a égide do radicalismo típico da Guerra Fria.
Os Estados Unidos apresentaram a proposta de bloqueio econômico a Cuba e sua expulsão da OEA. A delegação brasileira, chefiada pelo ministro das Relações Exteriores, Afonso Arinos de Mello Franco, bateu-se veementemente contra qualquer sanção contra Cuba.
E a tese foi vencedora, ao menos por omissão. Adiou-se a decisão.
O chefe da delegação cubana, ministro da Economia Ernesto “Che” Guevara, fez escala em Brasília antes de retornar a seu país, para agradecer a atuação brasileira.
Recebido pelo presidente Jânio Quadros em 19 de agosto de 1961, Guevara foi condecorado com a Ordem do Cruzeiro do Sul, honraria tradicionalmente concedida a importantes autoridades estrangeiras.
Imediatamente, o líder dos exilados cubanos no Brasil, Manuel António Verona, articulou uma reação. Somou-se a isso a reação do líder político contra Jânio, o governador da Guanabara, Carlos Lacerda.
Lacerda, convencido, com muita razão, aliás, de que Jânio queria dar um golpe, usou a condecoração a Guevara para sua pregação contra o presidente da República.
A renúncia do presidente Jânio Quadro em 25 de agosto reforçou o debate entre pró-comunistas e anticomunistas.
Ainda mais, a condecoração a Ernesto Guevara constituiu forte argumento para o golpe de 31 de março de 1964 e para a cassação do ex-presidente Jânio Quadros, na primeira lista de cassados do Ato Institucional nº1, editado em 09 de abril de 1964.
Portanto, a decisão de hoje é histórica, não só para as Américas, porque permite a reinserção de Cuba no concerto das nações do continente, mas também para o Brasil, tendo em vista as ligações entre a condecoração do ministro Guevara e a queda de Jânio Quadros, sua cassação e, de certa forma, a preparação para o golpe de 64.
A data realça a radicalização da Guerra Fria e as bobagens perigosas cometidas pelos generais brasileiros.
Que Cuba seja bem-vinda à OEA e ao concerto das nações democráticas do continente americano.
Que a frondosa árvore de democracia possa florescer também em solo cubano!
publicado em lucia hipollito, em 04/06/09.
ouvindo: maria rita. muito pouco
O povo cubano sofreu muito por muito tempo pela prepotência criminosa dos USA! Nesses anos eu estive em Cuba (inclusive na época do golpe passei 2 anos refugiado lá) muitas vezes e pude sempre admirar a força daquele povo e a incrível liderança do Comandante Fidel e Raul! Agora não há mais razão para Cuba ingressar na OEA. As atitudes do Obama são mais importantes. Mas representa uma vitória moral!
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